.brain(body+heart+day)storm.

.assim que abri a porta, o celular vibrou como um navio. não acredito que ela fez isso! chorei quando vi a foto. parecia que ela pressentia a saudade que eu sentia. saudade do dia, dela, da foto, de cada um que ficou lá do outro lado. fui para meu quarto. me tranquei e me guardei com cada lembrança. mandei mensagens de voz. chorei ainda mais um tanto quando ela respondeu. abri o e-mail. vi as vagas de emprego. respondi em prontidão. senti fome. odeio sentir fome. minha parte da geladeira estava vazia. fui ao mercado. fiz meu jantar da forma que mais amo: ouvindo música e bebendo. sozinha. não era uma opção. na verdade tudo isso foi uma opção minha, lembra? queria me perder para me achar -  achei que seria fácil. na verdade, está longe de ser, de me achar, de encontrar paz e realização. mas naquele momento, eu queria ter alguém para conversar e rir e dividir dicas culinárias sobre molhos e bebidas. terminei o jantar. sozinha. voltei ao meu quarto. sozinha. preciso meditar. qual era aquele site mesmo? liguei o computador. recebi uma mensagem de um casal de conhecidos sobre passagens aéreas. vamos com a gente? anotei roteiros, possibilidades, fiz contas e me imaginei em Bruxelas, Amsterdã e Escócia. eu queria Berlim, mas ainda não posso ir para lá. olhei para o relógio e já era tarde. tomei banho. voltei para meu quarto. liguei para casa, sentindo saudade. ouvi problemas, desespero e preocupações. desliguei. chorei mais outro tanto, num misto de tristeza, culpa e sentimento de impotência. pára. não fica assim, senão piora. meditar. preciso meditar, esvaziar a alma e limpar essa energia. procurei o site, salvei nos favoritos, achei trilhar sonoras incríveis. procurei por novos livros. baixei o filme que eu tanto queria. arrumei minhas coisas, preparei a mochila, separei minha câmera. me preparei para dormir. desisti de ler. deitei. rezei. fechei os olhos. adormeci. acordei. ainda eram quase quatro. não conseguia mais dormir. peguei o celular. ainda não conseguia dormir. peguei meu kobo. terminei de ler eleanor & clark. chorei nas últimas páginas. just three words long. voltei para o celular, busquei comentários sobre o livro. busquei notícias dele. não nos encontramos mais. não tinha atualizações nem fotos novas, só os últimos likes daquela tarde. sorri de volta. peguei meu kobo de novo. queria enganar o sentimentos e a falta de sono. comecei um novo livro e chorei logo nas duas primeiras páginas. só pode ser tudo isso mesclado com tpm. será que ainda fica pior? falava sobre uma menina que sofreu um atentado do Talibã por querer estudar. perdi o sono. já eram quase seis. e eu chorava com cada passagem e relato, com cada momento e saudade dela - saudade da melhor amiga, do quarto desarrumado, das roupas no chão e das medalhas que ganhou na escola, nos campeonatos de estudo. chorei ainda mais, me senti pequena. acordei. percebi que era 'dia da mulher' e que a leitura fazia razão para o momento. meu momento. adormeci. levantei as quase nove. arrumei o quarto, adiantei meu quase trabalho. olhei a janela e o dia mesclava em frio + vento + chuva + preguiça. voltei para  quarto e para o meu mundo. chorei ainda mais, sem razão, ou sem uma que fosse cabível e que fizesse um real sentido. preciso parar com isso. escrevi. recebi mais mensagens. li meu horóscopo. imaginei meu quarto novo - para quando eu tiver um. salvei fotos no computador. desenhei um pouco. escrevi para um amigo que está em São Paulo. desejei estar lá, por ele, pela exposição do Leminski, pelo meu restaurante chinês favorito, por tudo. desejei todas as coisas fáceis que me ganham. pensei em um regime e fiz planos para a nova semana.