outubro 19, 2009

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Reparei que algo não estava normal naquela manhã. Além do rosto pálido, da secura na boca, das palpitações, da dor de respirar, da vontade de não existir, algo me deixava inquieta. Não conseguia exprimir o que era, de onde vinha. Era lá de dentro, lá onde parece que não se consegue tocar.

Uma ânsia me rasgava pelo avesso. Uma desculpa qualquer era minha única saída. ‘Saí para tirar a pressão’ e ao chegar até a enfermaria, tentando reafirmar minha inventada desculpa, eu só conseguia chorar. Eu chorava de espanto de minhas próprias reações. A enfermeira tentava me acalmar, mas só piorava. Eu não conseguia sequer falar. Tremia e chorava. Parecia que nunca acabaria aquela angustia.

Minutos depois tive que me concentrar e voltar a minha normalidade esperada. Comprei um dramin e voltei a mesa. Não conseguia comer. Não queria comer. Nunca mais. Eu não consegui a acompanhar as pessoas em seus apetites e assuntos e sorrisos. Eu ficava muda e apenas acenava com a cabeça. Eu morria ali por dentro, querendo sumir e odiando momentaneamente tudo ao meu redor.

Não sei o que era. Não eram as pessoas, não era o momento. Era mais um dia, como outro qualquer. Como tantos que já passaram. O que poderia estar errado, oras? Tudo parecia tão igualmente normal. Menos eu.


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